Não tem pra onde escapar. Após os 40 e poucos anos, eu, você e qualquer pessoa do planeta vamos afastar a revista, o livro ou o celular para conseguir enxergar melhor. O braço fica cada vez mais esticado, numa tentativa de ver as letrinhas com maior nitidez. Até o momento em que não há saída: é preciso procurar o médico para receber o diagnóstico da presbiopia, que também leva a alcunha de vista cansada. “Trata-se da perda natural da elasticidade do cristalino, uma lente que temos dentro dos olhos responsável por focalizar diferentes comprimentos da visão”, explica o oftalmologista Paulo Schor, da Universidade Federal de São Paulo.
Por mais comum que seja, não dá pra negar que a condição interfere na qualidade de vida. “Para aqueles que passam o dia todo no computador, se torna difícil aguentar a carga de trabalho, o que leva a quedas no desempenho”, observa o oftalmologista Celso Takashi Nakano, do Hospital Santa Cruz, na capital paulista. O profissional visita regularmente tribos na Amazônia e acompanha as repercussões da presbiopia no cotidiano dos índios – até eles penam com a encrenca! “Com o tempo, sofrem para preparar o artesanato, para amarrar adereços em flechas, enfim, para realizar atividades que fazem diferença no dia a dia”, comenta.
Os efeitos da visão borrada não se limitam ao indivíduo e chegam a impactar até a economia global. Segundo um estudo da Universidade de New South Wales, na Austrália, 1,2 bilhão de sujeitos convivem com o problema. Isso representa um desperdício produtivo de 25 bilhões de dólares por ano. “Para piorar, não existe nenhum tipo de hábito ou atitude capaz de evitar ou retardar o enrijecimento do cristalino”, lamenta o médico Sérgio Felberg, do Conselho Brasileiro de Oftalmologia. Se não há como prevenir, nos resta saber, então, como remediar a vista cansada.
Os óculos de leitura são a maneira mais corriqueira de dar cabo desse déficit visual. “Naqueles que apresentam dificuldade também para ver de longe, é possível prescrever uma lente multifocal, que vem com grau para visualizar bem distâncias curtas e longas”, esclarece o oftalmologista Tiago Bisol, do Hospital São Vicente de Paulo, no Rio de Janeiro. Os modelos vendidos sem prescrição em farmácias e postos de gasolina estão proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária desde 2009. A decisão divide opiniões.
“Muita gente não tem acesso ao médico e fica sem tratamento. Isso é um corporativismo ruim, comparável a exigir um parecer do dermatologista toda vez que vou comprar um par de sapatos”, critica o oftalmologista Rubens Belfort Junior, da Academia Brasileira de Ciências. Na contramão, Bento Alcoforado, presidente da Associação Brasileira da Indústria Óptica, acredita que a medida traz segurança ao consumidor. “Do mesmo modo que não se deve vender remédio numa quitanda, a lei requer receita médica, um livro de registros e a presença do técnico óptico, o que não era obedecido pelas drogarias”, defende.
Polêmicas à parte, o ideal é ir ao oftalmologista anualmente dos 40 anos em diante para fazer a detecção precoce de uma série de males que podem acometer os globos oculares. Quando o diagnóstico é a vista cansada, dá até pra recorrer a outras abordagens além dos óculos, entre elas as lentes de contato. “Normalmente, lançamos mão delas por questões estéticas, como na hora de ir a uma festa, ou de conveniência, para facilitar a rotina de exercícios físicos”, repara a oftalmologista Laura Cardoso, consultora médica da Johnson & Johnson Vision Care.
Recentemente, foram criadas lentes mais tecnológicas, que se adaptam não só ao tamanho da pupila mas ao grau de deficiência de cada olho. Muitas carregam inovações como filtros que bloqueiam uma parcela dos raios ultravioleta do Sol que prejudicam os órgãos da visão. Vale lembrar que, apesar dos progressos nessa seara, os óculos continuam indispensáveis para períodos de descanso ou intercorrências que impeçam o uso das lentes.
Por fim, há algumas modalidades de cirurgia para voltar a enxergar direito. Elas envolvem o emprego de laser e modificam a curvatura da córnea, a camada superficial e externa do olho. “Mas existe certa controvérsia sobre os benefícios desse tipo de procedimento para a presbiopia”, julga Felberg. Portanto, o laser não está entre os métodos populares na prática clínica.
Quando o sujeito de idade avançada apresenta presbiopia junto com catarata, processo em que o cristalino perde transparência e começa a ficar turvo, o jeito é substituir a estrutura natural por uma sintética. A ciência evoluiu e oferece lentes trifocais, com ajuste de nitidez para objetos próximos, intermediários e longínquos. “Porém, é necessário conversar com o paciente, porque o resultado não vai ser perfeito como ele espera”, adverte Belfort Junior.
Uma sugestão: aproveite a leitura e confira a que distância você está da tela do computador, do tablet ou do smartphone para ser capaz de decifrar todas as frases. Caso as páginas estejam longe de seu rosto, uma visita ao oftalmologista pode trazer um alívio danado aos seus olhos — e aos seus braços.
Xi, embaçou…
Entenda o que se passa nos olhos da quarta década de vida para a frente, quando a presbiopia dá os primeiros sinais
1. O cristalino é uma lente gelatinosa transparente que se movimenta o tempo todo para garantir o foco e a nitidez de curta, média e longa distâncias.
2. No decorrer dos anos, ele perde a elasticidade original e não se mexe com a rapidez necessária para enxergar coisas que estão próximas do rosto.
3. A formação da imagem, que deveria acontecer na retina, no fundo do globo ocular, ocorre num ponto ainda mais distante. O resultado é a visão borrada.
Raio X dos tratamentos
As vantagens e as desvantagens das três alternativas disponíveis para corrigir a visão
Óculos
Prós – São a forma mais fácil e rápida de corrigir a vista cansada.
Contras – Há quem se incomode e não goste de usá-los em situações sociais.
Lentes de contato
Prós – Ficaram modernas e os modelos se acertam a cada olho.
Contras – Carecem de cuidados de higiene e pedem descanso aos olhos.
Cirurgia
Prós – Resolve catarata e presbiopia de uma vez só.
Contras – Está indicada para um perfil específico de paciente.
Fonte: Portal Saúde (https://saude.abril.com.br/medicina/como-tratar-a-presbiopia/)
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